sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

COMENTÁRIO SCARCELA JORGE - SEXTA-FEIRA, 9 DE FEVEREIRO DE 2018

COMENTÁRIO­
Scarcela Jorge
CIDADÃOS SOFRÍVEIS


Nobres:
Poderia ser surreal, mas é verdade, onde milhões de pessoas se esforçam diariamente para ao fim do esforço conseguir apenas o necessário à sobrevivência, a grandiosidade das somas mencionadas no decorrer das investigações recentes no país. Fala-se em dezenas e até  centenas de milhões de reais como quem se fala no preço do ingresso do cinema ou de algum produto no supermercado. A comparação pode a princípio parecer raciocínio com pano de fundo populista, afinal, em toda sociedade democrática tem gente contando tostões e outras acumulando milhões, mas nesse caso é outra coisa. É um raciocínio revelador de um momento doloroso para o país e particularmente doloroso e sofrido, até para quem está sentindo na pele os efeitos da crise. Temos hoje no Brasil, segundo as últimas estatísticas, 14,2 milhões de pessoas desempregadas. Nos últimos doze meses, mais de três milhões engrossaram essa cifra. À margem da frieza dos números, é possível imaginar que não há um brasileiro hoje que não tenha um familiar, um amigo, um colega de trabalho desempregado. Entre eles, muitos que há tempos buscam retornar ao mercado de trabalho e não conseguem. E que, para sobreviver, enveredam por ocupações informais ou contam com ajuda de parentes. Para que essas pessoas voltem à condição de empregados, ou consigam o primeiro emprego, é preciso que o país saia da crise, que os investimentos retornem que a economia encontre o caminho da estabilidade e da melhoria dos seus indicadores. É este diagnóstico que traz para a vida de cada um a comparação feita acima. Enquanto, cá embaixo, as pessoas padecem lá em cima; o Brasil  patina na incerteza. As atenções do país estão voltadas, com razão, para a revelação de práticas ilícitas e para a investigação de personalidades políticas e empresariais. Os mecanismos da privatização da coisa pública estão sendo expostos em toda sua crueza, para que todos vejam. Mas há outra parte do país igualmente merecedora de atenção a dos brasileiros que estão sem emprego e dos que lutam para garantir o básico a suas famílias. Para essa parte do Brasil não interessa qual partido está mais envolvido, ou qual liderança mais traiu a confiança popular. Para esses brasileiros que estão sentindo na pele os efeitos da crise, a prioridade é outra. É fundamental ter a atenção voltada para eles. Ao fazer isso, nos damos conta que tanto os inflamados discursos pseudomoralistas quanto encobertam tolerâncias ao ilícito os tratam como meros coadjuvantes. Não estão nem aí para a sorte deles. Mas qualquer eventual solução para a crise que não contemple as necessidades desses brasileiros será, em qualquer circunstância, uma solução incompleta. Esta é a nossa realidade.

Antônio Scarcela Jorge.

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